Wednesday, July 26, 2006

A incrível história do pepino que descobriu o sentido da vida



Baltazar era um pepino e, como todo vegetal, era dotado de paredes celulares em suas células, o que não dava para armar uma rede mas lhe facilitava o transporte ativo de micronutrientes. Era um vegetal comum e passaria até despercebido entre os demais se não fosse a sua insatisfação consigo mesmo, o que o levava muitas vezes a situações desconcertantes. Não era raro encontrá-lo dependurado de ponta cabeça em árvores experimentando a vida de fruta, ou enfiado por debaixo da terra investigando a vida dos tubérculos e rizomas. Também já mergulhou em rios profundos para aprender com as esponjas e aventurou-se em altas montanhas em busca de si mesmo, motivo de pilhéria entre os seus semelhantes que desdenhavam sua inquietação em aceitar o destino pepinístico. Assim era Baltazar, que carregava dentro de si um vazio que estava longe de ser preenchido com suas sementes. E foi assim que um dia, cansado de sua vida vegetativa, Baltazar resolveu mudar de vida. Abandonou a horta e foi para a cidade grande, onde talvez pudesse encontrar respostas para seus questionamentos existenciais.

Mal sabia que o pior lhe aguardava e a sobrevivência foi difícil. Precisou dormir ao relento por vários dias e sujeitar-se à indiferença dos habitantes urbanos, loucos que eram, com suas existências cíclicas e absurdamente mais rotineiras, presos em fios letais invisíveis chamados de "civilização". Tinham um vazio ainda maior disfarçados por analgésicos e entorpecentes, o que aliviava a dor daqueles que supostamente poderiam ajudá-lo. Desesperançoso, Baltazar vivia seus dias esperando a morte chegar, se virando como podia, mendigando atenção e realizando alguns truques para arrecadar fundos que lhe garantissem a subsistência. E um dia, quando segurava o último suspiro antes de dizer adeus a tudo e entregar-se ao fatídico destino, viu algo que mudou radicalemente sua vida: numa janela, no açougue ao lado, uma linda e formosa salame.

Foi amor à primeira vista, e nesse momento arrebatedor teve a certeza de que ela era a mulher (?) da sua vida. Acenou e foi prontamente correspondido, pois os olhares desde então não mais se desviavam. Chamava-se Salete, e era uma salame defumada, o que lhe dava ainda mais charme. Salete passava os dias a contemplar o lado de fora da vitrine, e já estava cansada de ser paquerada pelos cachorros da vizinhança que babavam por ela, todos com segundas intenções que lhe coravam a face. Ao ver aquele verde e simpático pepino, algo em seu coração foi tocado inexplicavelemente. Não tiveram mais dúvida: foram feitos um para o outro. Baltazar tomou-a nos braços e e juntos fugiram para Paspartópolis, terra da plenitude, onde puderam ter lindos pepininhos e salaminhos.

E foram felizes para sempre...

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